janeiro 28, 2015

DORMENTE MÁQUINA DO TEMPO


Depois dos sonhos se aglomerarem na insónia,
concedo a viagem ao mundo do silêncio
partilhado pelos sem-luz.
Penetro nos oceanos da bem-aventurança
e afogo-me no fedor das roupas
e na falta de esperança.

Permaneço na escuridão até não conseguir ver.
O que lá encontro, não será sempre bonito,
mas é melhor do que estar cego.
O sortilégio da psique aparece frequentemente sem ser convidado, 
neste surto malfadado,
logo após a explosão dos olhos.

Aquele que é estranho,
que dê um passo em frente.
Quero conhecer-te.

Torna-te agora a fonte de inspiração
e cai sobre mim,
como a musa em transe.
Cai sobre mim,
como a chuva que encarde
a cidade.
Cai sobre mim,
como o labirinto dos gritos.

Hoje adormeci assim.
Com o tempo virado a mim.


janeiro 03, 2015

O PRIMEIRO DIA DE UM ÚNICO TEMPO



Anuncio-me como fiel pretendente de um reino invisível,
albergando nos braços os raios do meu sol.
Não preciso de concentrações,
manifestações ou revoluções.
Preciso apenas de mais de mim.

Não me falem de paz,
porque é do caos que provenho.
Sim, dessa dança conturbada do cosmos,
dessa tela negra cheia de estrelas em vida menor.
É aí que quedo. Numa espiral de desassossego que a todos pertence.

Vejo-me,
liberto dos céus e cansado da terra.
Vejo-me,
nos braços do poema e com os olhos postos na memória.
Vejo-me,
no caminho da febre e com medo da finisterra.
Vejo-me,
a carregar a estranha dor da história.

Agora, que o meu corpo é mágoa,
cerco o reino da cabeça aos pés.
Purifico-me com outra água,
e descubro-me de vez.