novembro 26, 2015

UMA FLOR E UM POEMA-PIPOCA


Antes daquela estrada que desce contigo,
verás que o vazio faz parte da caminhada,
porque a paixão é a primeira a desistir,
enquanto o amor reside apenas nas palavras.

Na tua inconsciência,
um suspiro é um gentil suspiro,
um retiro é um gentil retiro,
mas a força do adeus
torna-se maior que a força do aconchego.

No escuro,
- e sempre no escuro -
as tuas pernas contorcem-se em espasmos devolutos,
depois de sonhares a queda,
e nesse teu sonho, regressas ao mar lânguido do teu sufoco,
onde guardas memórias plausíveis da tua mãe.

No dia em que tudo cessar,
a vontade engolirá a noite da loucura,
sem voos tutelares,
sem histórias para relembrares,
e tudo se instalará na pujança salivar da minha voz.






julho 15, 2015

A EMBRIAGUEZ PRECIPITA A GRAVIDADE


A tarde cola-se ao teu cabelo,
como os insectos cegos da discórdia.
E agora que os corpos anunciam o Verão,
brota da fonte fresca,
a poesia serôdia.

Sonhamos a prata num furo,
neste quarto obscuro,
enquanto as ondas do mar
espalham o sol na torna-viagem do estrondear.

Reflecte-se o sol nas sombras das tuas pálpebras,
na areia escura do teu ventre,
desaparecendo assim o nosso destino demente.

O sol é o objecto principal num dia que não existe.
É uma bomba que expele as pessoas para o vómito da espuma
e a vida submersa no frio dos nossos gestos.

abril 19, 2015

OS LIVROS QUE TOMBAM NA PRATELEIRA SÃO OBRA DAS SUAS PERSONAGENS



No embate dos corpos,
prezo contudo as imagens que se consolidam devagar
num sumptuoso esgar,
e que nessa medida incerta,
sustentam uma mente aberta.

O sol desce
e apodrece
a ciranda dos mortos
que jaz no crómio.

O químico dessas histórias
aglomera-se impávido, 
mas é ávido 
da satisfação plena dos meus olhos,
que ardem a cada dia, a cada instante, 
a cada semblante.

Nunca conseguiremos vislumbrar o futuro, 
enquanto nos afrontarmos com o embate das moscas,
e assim o presente continuará a pertencer ao ímpeto dos pássaros.

Na tesão da vida,
não serve de nada o sémen da gratidão.